Sabedoria de Deus: loucura da cruz

"18. A linguagem da cruz é loucura para os que se perdem, mas, para os que foram salvos, para nós, é uma força divina. 19. Está escrito: Destruirei a sabedoria dos sábios, e anularei a prudência dos prudentes (Is 29,14). 20. Onde está o sábio? Onde o erudito? Onde o argumentador deste mundo? Acaso não declarou Deus por loucura a sabedoria deste mundo? 21. Já que o mundo, com a sua sabedoria, não reconheceu a Deus na sabedoria divina, aprouve a Deus salvar os que crêem pela loucura de sua mensagem. 22. Os judeus pedem milagres, os gregos reclamam a sabedoria; 23. mas nós pregamos Cristo crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os pagãos; 24. mas, para os eleitos - quer judeus quer gregos -, força de Deus e sabedoria de Deus. 25. Pois a loucura de Deus é mais sábia do que os homens, e a fraqueza de Deus é mais forte do que os homens" (I Cor 1, 18-25).

Meus irmãos, São Paulo fala dessa mensagem da Cruz (da revelação da imensa sabedoria de Deus) de uma forma tão escandalosa nunca vista até os tempos de hoje. Nós sabemos que Deus Pai – para provar o quanto nos ama e o quanto nós somos valiosos perante o seu amor – foi capaz de subir na cruz e dar a sua vida por nós. Os que tinham o coração endurecido não conseguiam compreender. “Como é que pode”, diziam eles, “como é que pode um libertador morrer dessa forma?”... “Aquele que veio libertar Israel do domínio do pecado, do domínio da opressão, morrer como um condenado, como um prisioneiro, como um castigado?”. As pessoas, naquela época (e ainda hoje), ficaram extremamente confusas com a linguagem que Cristo usou para demonstrar o amor do Pai para com a humanidade. As pessoas não conseguiam entender como é que um homem que se dizia Deus, Filho de Deus, e que também realizava tantos milagres, havia acabado numa situação tão desgraciosa como aquela: nu, em cima de uma cruz, morto em meio a dois ladrões, numa morte tão desprezível (a pior daquela época).

A sabedoria de Deus sempre se opõe a nossa. A linguagem da cruz veio para desestruturar as idéias ou pensamentos formados que nós carregamos acerca do que se pensa e fala de amor, doação, entrega. Jesus, na sua “loucura”, quis mostrar que loucos são, pelo contrário, os que vivem segundo os apetites da carne e não se deixam conduzir pelo Espírito; os que hesitam em tomar a sua cruz e viver uma vida de renuncia e sacrifício, encontrando em Jesus Cristo – Caminho, Verdade e Vida – o verdadeiro sentido de sua existência.

Quão maravilhosa é a sensação de se vencer, de dizer não as próprias vontades. Que paz extraordinária o Espírito Santo faz repousar em nosso coração quando renunciamos. Que sensação de conquista, de vitória quando não fazemos o que queríamos fazer ou quando as coisas acontecem totalmente ao contrário do que esperávamos; e conseguimos, nisso tudo, encontrar uma oportunidade para crescermos e nos santificarmos. Daí a necessidade de ser louco o suficiente para dizer não aos próprios desejos e, mesmo sofrendo as dores da renúncia e do sacrifício, viver, então, a verdadeira experiência do Amor que Liberta. É por isso que, para nós, cristãos, cruz é sinônimo de vida, salvação, ressurreição. A cruz é símbolo de vitória; da vitória de Cristo sobre a morte, sobre o pecado.

Nós nos perdemos quando buscamos a nossa sabedoria, quando procuramos justiçar as coisas segundo a nossa própria, e falha, sabedoria humana. A linguagem da cruz fala de sacrifício, renúncia, mortificação, como podemos observar no Evangelho de São Mateus: “Jesus disse: Quem não toma a sua cruz e não me segue, não é digno de mim” (Mt 10, 38) e “Em seguida, Jesus disse a seus discípulos: Se alguém quiser vir comigo, renuncie-se a si mesmo, tome sua cruz e siga-me” (Mt 16, 24). A cruz é um caminho de morte que conduz a vida.

A imagem de Jesus crucificado é sinal de escândalo para o mundo, mas para nós é força e sabedoria de Deus. Ela nos lembra que nossa vida está pregada na cruz de Cristo e, por isso, a nossa linguagem é a de Jesus Crucificado. “Na realidade, pela fé eu morri para a lei, a fim de viver para Deus. Estou pregado à cruz de Cristo” (Gl 2, 19).




Jair Nascimento
(Formador da Comunidade Crux Sacra)