Amar e Gerar Comunhão



Relacionar-se e gerar comunhão é algo que faz parte da vocação do homem, uma vez que está enraizado em sua própria natureza. E essa é uma característica que o torna mais gente, mais pessoa e, portanto, capaz de ser aquilo que Deus quer. Mesmo que muitas vezes pareça ser tão difícil, as dimensões do relacionamento e da comunhão fraterna é o que existe de mais necessário e fundamental para o ser humano. O próprio Deus, ao sair de sua glória, quis experimentar – na pessoa de Seu Filho Jesus Cristo – dessa comunhão conosco. A própria Trindade é Comunhão: Deus-Pai, Deus-Filho e Deus-Espírito Santo. Três pessoas diferentes que se fazem um.


Baseando-se nesse principio, é possível afirmar que, se somos filhos de um Deus que é comunhão, gerar comunhão, então, é algo inerente à nossa essência; isto é, há em nós uma inclinação natural para isso. O mundo de hoje, no entanto, tem feito com que nós nos esqueçamos dessa capacidade. A prova disso são os relacionamentos cada vez mais a distância. Muitas coisas acabam nos privando daquilo para o qual fomos chamados a viver. Sem dúvida, é mais fácil dizer “eu te amo”, “pode contar comigo” ou mesmo discutir e dizer algumas verdades pelo MSN. Mas o que nos torna mais humanos é a capacidade de olhar nos olhos e nos comprometermos com aquilo que dizemos.


Somos uma geração que tem medo do compromisso, sobretudo do compromisso para com as pessoas. Já ouvi pessoas dizerem: “É mais fácil lidar com animais do que com gente!” Claro, animais não ferem os nossos sentimentos, não nos machucam nem necessitam do cuidado e da dedicação que uma pessoa precisa. O fato é que muitos tratam melhor os animais e os objetos do que as pessoas que estão ao seu lado.


Não se pode negar que o ato de gerar unidade, comunhão em nossos relacionamentos é algo bastante desafiador; pois requer sensibilidade, perdão, misericórdia e disposição para acolher a limitação do outro. E nem todos estão dispostos a isso. Contudo, se não me abro a relacionamentos verdadeiros, também não me torno verdadeiramente pessoa; não descubro a minha mais natural essência: amar. O próprio Cristo, repito, quis estar conosco, gerar comunhão comigo e com você, a fim de experimentar, sem medo, do que havia em nossos corações.


Certo dia, estava num supermercado e lá encontrei um livro cujo título era “O amor é para os fortes”. A sinopse dizia o seguinte: “Não existem relações perfeitas e sim relações possíveis, e nas possibilidades das relações encontramos as maiores riquezas do amor”. Isso me marcou profundamente porque pude perceber que a diferença dos relacionamentos está em saber aproveitar as possibilidades. As relações humanas nunca serão perfeitas, pois nós não somos perfeitos. E para superar as imperfeições (as nossas e as do outro), é necessário saber perdoar. Perdoar é dar à outra pessoa a oportunidade de tentar novamente na nossa vida. Sem isso é impossível viver bem.


É muito mais fácil desistir das pessoas, sobretudo daquelas que não nos agradam e supostamente não “acrescentam” nada às nossas vidas, do que insistir por elas. Lutar, insistir requer sensibilidade para perceber aquilo que está oculto aos olhos; assim como fez (e faz) Jesus com cada um de nós. Ele se decidiu por mim e por você – mesmo com as nossas imperfeições – para que percebêssemos que, carregando em nós essa filiação, também somos capazes de amar e, assim, gerar comunhão. Mas isso requer uma disposição interior que ultrapassa a dimensão da simpatia, do sentimento. Amar é decisão. Para que a comunhão aconteça é preciso sair de nós mesmos e se abrir ao outro com o desejo de acolhê-lo e amá-lo, com todas as suas diferenças e misérias. Só o amor é capaz de operar alguma mudança em alguém.


Creio que as famílias se acabam justamente porque não acreditam mais no que o outro pode ser amanhã. A cada dia torna-se mais difícil confiar nas pessoas, o medo da decepção assola os nossos corações. Mas quem nunca feriu ou decepcionou alguém que atire a primeira pedra! Todos nós, consciente ou inconscientemente, intencionalmente ou não já machucamos alguém. Mas creio que o amor que une duas pessoas deve ser bem maior que qualquer outra coisa. O desejo de acertar, do outro, deve tocar mais o nosso coração do que seus erros. É assim que Deus age conosco.


Sejamos, pela força de um amor-decisão, promotores da comunhão. Paz e bem!





Jair José do Nascimento

(Formador da Comunidade Crux Sacra)