O perfeito amor lança fora o temor (1 João 4, 18)

Nossa perfeição não está em fazer coisas impecáveis, mas em amar. Amar indistinta e gratuitamente à semelhança do amor que o Senhor dispensa sobre nós dia após dia. Um amor que acolhe, que compreende, que perdoa e que oferece novas oportunidades de recomeçar sempre.

Sim, é difícil. Mas, para os que desejam alcançar a santidade, esse é o único caminho. E não contamos com as nossas próprias forças para isso, mas com a graça de Deus. A nós cabe a disposição e a abertura de coração para que a graça nos plenifique na vivência do amor.

Permanece em Deus aquele que persevera no Amor. Alcança a santidade aquele que busca viver plenamente o amor. Pois Deus é amor.

O amor ao próximo é o jeito mais concreto – diria até seguro – de provarmos o nosso amor por Deus. Pois não podemos alegar que amamos a Deus se não dermos provas desse amor a quem está ao nosso lado. Nesse sentido, amar a Deus e ao próximo assumem níveis equiparados, inseparáveis.

Mas para amar (plenamente) é preciso lançar fora todos os temores. Eles nos impedem de alcançar a perfeição na vivência do amor, porque criam dentro de nós inúmeras barreiras que nos privam de nos ofertarmos sem reservas ao outro. Nossos temores geram desconforto, desconfiança, medo, receios. E tudo isso nos impede de sermos verdadeiramente livres para amar.

É imperfeito e ineficaz um amor que não se esvazia dos seus temores. Um amor que tem medo de amar. Um amor que não ama até o fim; que não é capaz de ofertar a vida – e de perdê-la, se preciso for.

Lançar fora os temores não significa desfazer-se dos riscos de amar, mas assumi-los. Não podemos deixar de amar pelo medo de não sermos correspondidos ou de sermos decepcionados. Tudo isso faz parte. São os riscos do amor. E se não nos arriscarmos a amar jamais compreenderemos oque é ser amado também.

Não é a toa que amar cansa. Cansamos, muitas vezes, por pensar que não tem valido a pena o nosso amor; que não temos sido reconhecidos nos nossos esforços em amar; que a outra pessoa não é merecedora.

É quando percebemos que o amor que dispensamos não precisa voltar para nós. Ele deve simplesmente alcançar o coração das pessoas e ali fazer morada.

É quando percebemos que amar é uma desafiadora missão. Missão de fazer com que as pessoas se sintam amadas por Deus, independente do que são ou fazem.

É quando percebemos que amar não pode ser uma opção, mas uma obrigação.

É quando percebemos que precisamos reaprender a amar. E é Deus mesmo quem nos ensina. É d’Ele que aprendemos que o amor não pode ser egoísta, invejoso, arrogante, ambicioso, nem buscar seus próprios interesses. Antes, o verdadeiro amor é “paciente, bondoso [...] tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”. (I Coríntios 13, 4-7)

Quando experimentamos do escandaloso amor de Deus não conseguimos retê-lo em nós. Brota,em nosso interior, o desejo insaciável de passá-lo adiante.

É preciso compreender que vale a pena sempre... mesmo quando achamos que não.

Por isso, precisamos nos desfazer dos nossos temores, a fim de que o nosso amor seja pleno e não encontre barreiras. O nosso amor precisa ser gratuito, desinteressado. E esse é o grande desafio! Amar é esquecer-se de si, multiplicar-se nos outros. Quem ama não tem direito de defender a própria vida.

Um amor que não é capaz de matar a própria vontade pra ver feliz o coração de quem o recebe não é amor de verdade.

Por Dênes Souza
(Missionário da Crux Sacra)